quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Astronautas da estação espacial mandam mensagem de Natal à Terra

Em vídeo, eles destacam tempos difíceis, mas dizem que época é de celebrar

A equipe da ISS (Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês) gravou uma mensagem de Natal, desejando boas festas e feliz Natal. Ao lado de um boneco do Papai Noel e uma árvore de Natal, três dos tripulantes fizeram um vídeo, que foi divulgado no site da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana).

O comandante da Expedição 26 da ISS, Scott Kelly, disse que “todos devemos ser gratos” por ter como lar “nosso lindo planeta”.
- Gostaria de desejar a todos no planeta Terra boas festas e um Natal muito feliz.

A astronauta e engenheira de vôo Catherine Coleman lembrou que as festas de fim de ano são um período em que valorizamos estar com nossos amigos e familiares, “e no qual pensamos no que temos e no quanto mais nós temos que alguns outros”.

- Os tempos são difíceis no mundo todo, mas essa é uma época quando podemos pensar em estar juntos e em valorizar nosso planeta. E temos uma bela vista dele daqui de cima.

O astronauta Paolo Nespoli, por sua vez, disse que do espaço o que se vê é “um mundo, um planeta, e todos devemos celebrar essas festas”.

Fonte:  Portal R7

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Os animais e os vegetais podem se tornar importantes aliados do homem e da natureza como indicadores ambientais



Os animais e os vegetais podem se tornar importantes aliados do homem e da natureza como indicadores ambientais, podendo apontar várias modificações ocorridas no meio ambiente, mostrando quando ele está contaminado ou sendo destruído pela presença de produtos tóxicos no solo, na água ou no ar, contaminação de rios, desmatamentos, derramamento de petróleo e agrotóxicos.

Estes animais são sensíveis, diversos e capazes de produzir várias gerações em um curto espaço de tempo, respondendo rápido às perturbações nos recursos de seu habitat e às mudanças na estrutura e função dos ecossistemas, sendo assim, importantes na indicação da qualidade do ambiente.

Assim, os estudos faunísticos no Brasil têm sido realizados para melhor conhecimento das espécies de um determinado ecossistema. Boa parte das pesquisas utilizam os anfíbios e peixes, que funcionam bem como bioindicadores. Em Mato Grosso, existem várias pesquisas nesta direção, algumas focadas na identificação de anfíbios deformados em áreas utilizadas para agricultura e com uso intenso de agrotóxicos.


Fonte:    Gazeta Digital / Josana Salles


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um quinto das plantas do mundo enfrenta a extinção Estudo aponta que entre 80 e 100 mil espécies estão ameaçadas

LONDRES - Cerca de 22% das plantas do mundo estão ameaçadas de extinção, segundo uma pesquisa que avaliou os perigos que ameaçam as espécies vegetais.

O estudo, que envolveu cientistas britânicos, indica que os muitas das 380.000 espécies diferentes conhecidas corem o risco de desaparecer como os mamíferos e estão mais ameaçados que os pássaros.

Um grupo de cientistas do Kew Gardens de Londres, do Museu de História Natural de Londres e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) apurou que a maior ameaça ao habitat de plantas é a ação humana.

A destruição da mata atlântica da América do Sul, derrubadas e queimadas de áreas florestais em Madagáscar, as plantações de palma para produção de azeite na Indonésia e a agricultura intensiva na Europa e América são as grandes ameaças aos habitats naturais das plantas.

O estudo indica que entre 80.000 e 100.000 espécies de plantas estão ameaçadas de extinção em todo o mundo, um número 50 vezes superior ao número de espécies nativas nas ilhas britânicas.

Para chegar a esta conclusão, o relatório tomou como referência 7.000 plantas pertencentes a cinco grupos principais de vegetais que incluem musgos, samambaias, coníferas, algumas flores, como orquídeas, gramíneas e leguminosas.

Tanto as espécies raras como as mais comuns foram avaliadas para se ter uma visão mais clara do seu futuro, em contraste com a atual Lista Vermelha de espécies de plantas ameaçadas desenvolvida pela IUCN, compreendendo apenas 3 por cento das plantas existentes já que está focada nas que correm risco de extinção.

Os pesquisadores descobriram que 22% destas espécies podem ser classificadas como "criticamente ameaçadas" de extinção, apenas "em perigo" ou "vulneráveis".

Cerca de 10% ainda não estão em perigo, mas estarão se não tomarmos as medidas adequadas, como acontece com a flor conhecida como snowdrops, que chegou ao Reino Unido como uma espécie invasora, mas está perdendo terreno em sua habitat natural na Europa Central e Oriental.

A maioria das espécies ameaçadas são nativas de florestas tropicais, onde cresce a maior variedade de plantas, e de ilhas que estão no meio do oceano, como Páscoa e Bermudas.

O grupo das gimnospermas, da qual pertencem as coníferas, é o mais ameaçado, com cerca de 36% das espécies do componente de risco.

O diretor do Kew Royal Botanic Gardens, Stephen Hopper, disse que o estudo "confirma o que já suspeitava: Que as plantas estão ameaçados pela ação humana".

"Nós não podemos ficar parados enquanto as espécies desaparecem. As plantas são a base da vida na Terra, fonte de ar limpo, água, alimentos e combustível, e toda a vida animal depende delas", disse Hopper, que observou a necessidade de utilizar todas as ferramentas do conhecimento para evitar o desaparecimento da vida vegetal.

O estudo é publicado apenas algumas semanas antes de os funcionários da ONU reunirem-se em Nagoya (Japão) para discutir sobre a biodiversidade e definir metas para a proteção da natureza.

  Fonte Estadão.com

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Preservar biodiversidade exige recursos e tecnologia - Paulino Franco de Carvalho Neto, negociador do Brasil na COP-10 da Convenção sobre Diversidade Biológica

Paulino Franco de Carvalho Neto, chefe da Divisão de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e negociador do Brasil na COP-10 da Convenção sobre Diversidade Biológica, afirma que a principal reivindicação do País na reunião não é dinheiro. Para ele, o "crucial" é a transferência de tecnologia dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento.

Quais são os temas cruciais para o Brasil na COP-10?

Para o Brasil, os temas cruciais para esta COP são a adoção do Protocolo de Acesso e Repartição de Benefícios (Protocolo ABS), do novo Plano Estratégico da Convenção sobre Diversidade Biológica e de uma estratégia de mobilização de recursos que garanta recursos suficientes aos países para cumprir com as metas acordadas. Este último ponto é importante não apenas para o Brasil, mas para os países em desenvolvimento em geral. Isso nos auxiliará na valoração dos recursos genéticos e conhecimento tradicional associado, ou seja, aquele ligado a medidas, práticas e inovações de comunidades indígenas e locais, além de permitir que sejam colocadas em prática medidas contra a biopirataria. Por último, existe a questão dos recursos financeiros necessários aos países para que coloquem em práticas medidas eficazes de conservação e uso da biodiversidade.

E quais são as posições defendidas pelo Brasil?

O Brasil defende a adoção de um documento eficaz e efetivo, que ajude os países no combate à biopirataria, valorizando seus recursos genéticos e conhecimento tradicional associado. O governo entende que a pesquisa e a agricultura, setores que utilizam intensamente recursos genéticos, deverão ser levados em consideração, contando com provisões especiais.

Quais são as decisões que precisam ser tomadas para que a conferência não seja considerada um fracasso?

É preciso notar que a Conferência das Partes é feita pelos Estados, e as decisões são tomadas por consenso. A adoção de um tratado internacional é sempre um evento de grande importância. Mas, se ele não for de fato efetivo, o melhor é não termos instrumento. Além disso, a adoção de um Plano Estratégico com metas adequadas, acompanhada por uma estratégia de mobilização de recursos que garanta fluxos financeiros aos países em desenvolvimento, servirá para dar impulso à Convenção sobre Diversidade Biológica. Mesmo no Brasil, a biodiversidade ainda não está na agenda nacional como poderia.

Quais são os principais entraves nas discussões?

Uma das principais preocupações do Brasil é garantir que haja repartição dos benefícios advindos da utilização dos recursos genéticos contidos em nossa biodiversidade e esses recursos sejam utilizados em cumprimento com nossa legislação nacional - e não inadequadamente apropriado ou patenteado, por exemplo. Ocorre que existe forte oposição de alguns países desenvolvidos, que se opõem à implementação de regime mais efetivo. Nesse caso, o Brasil poderia considerar uma alternativa regional, o que ainda precisa ser discutido.

As negociações são polarizadas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, a exemplo do que ocorre nas negociações climáticas?

Existe polarização na medida em que os maiores detentores de biodiversidade são países em desenvolvimento, que, por sua vez, não contam com recursos suficientes para implementar programas de preservação e uso sustentável do meio ambiente. Isso se reflete nas discussões políticas. Não obstante, há outros componentes a serem levados em consideração, então não é apenas uma questão de aderir a uma discussão polarizada entre desenvolvidos versus em desenvolvimento. O Brasil tem sido cada vez mais singularizado, por ser um País de vasta biodiversidade, mas também um forte exportador agrícola e com pesquisa crescente em biotecnologia. Passa a assumir o papel não apenas de receptor, mas de promotor de cooperação.

As ações do Brasil com relação à convenção estão condicionadas a apoio financeiro e tecnológico dos países ricos?

O Brasil sempre defendeu recursos adicionais aos países em desenvolvimento, mas a questão crucial que se coloca para o País não recai somente sobre fluxo financeiro, recai sobre a transferência de tecnologia.

Qual o incentivo para que países cumpram as determinações?

A Convenção sobre Diversidade Biológica é um tratado internacional, de caráter obrigatório. As decisões da Conferência das Partes, de caráter político, são tomadas por consenso, mas não existem sanções para nações que não as cumprirem. Negligenciar o meio ambiente e negar o momento para a ação, para que se reverta a perda da biodiversidade, não parece ser uma saída razoável.


Fonte:  Herton Escobar - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A importância dos besouros do Pantanal

Quem já não se assustou com o vôo estridente de um besouro sobrevoando as plantas? Esses seres fazem parte de um mundo animal ainda bem desconhecido e são geralmente marginalizados por serem chamados de insetos horripilantes. Embora pequenos, os besouros possuem articulações firmes e fortes, capazes de agarrar a fêmea ou cortar um galho. Recentemente, cientistas ingleses afirmaram que o besouro rinoceronte (Oryctes rhinoceros), que vive em florestas tropicais da América do Sul, é o mais forte de todos os insetos. Não se pode afirmar qual o número real de espécies de besouros catalogados, mas se fala em cerca de 300 mil em todo o mundo. 

Em Mato Grosso as investigações científicas com relação a este inseto estão mais focadas no ecossistema pantaneiro. Pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) estudam a ecologia e taxinomia de artrópodes (apêndices articulados) e, desde 1977, formaram um grupo para conhecer a biodiversidade na região do Pantanal, entender como esses bichos reagem ao estresse hídrico (seca/cheia/vazante) e a função ambiental que exercem no ecossistema. 

Marinez Isaac Marques, professora e doutora em Ciências Biológicas com especialização em entomologia da UFMT, afirma que o Pantanal tem grande população de besouros, mas com pouca diversidade de espécies. Os estudos são direcionados para as famílias Scarabalidae, com destaque para o popular rola-bosta; Ceramibyeidae, chamados de serra-pau; Staphilinidae e os Curculionidae, um besouro semi-aquático presente nos igarapés do Pantanal. 

Marinez vem desenvolvendo pesquisas para estudar a relação especial que o besouro aquático tem com a planta. "Ao analisarmos sua estrutura, percebemos que ele tem pelos e um sistema respiratório que permite que sobreviva na água e dentro da planta por muito tempo. Ao se reproduzirem ali, esses besouros soltam ovos e larvas que vão destruindo a planta de forma natural, o que mantém um certo controle no crescimento dos igarapés. É, portanto, uma função que esse bicho tem naquele ambiente". A pesquisadora avalia que vem encontrando outras espécies de besouros neste ambiente "o que pode nos indicar que existem espécies ainda desconhecidas". 

Nas árvores pantaneiras, os besouros chamados de serra-pau fazem a ovoposição nos galhos e usam o ferrão na barriga para furar o pau e colocar os ovos. Assim que ovula essa espécie usa a força da mandíbula para serrar o galho. Assim que o Pantanal começar a encher, os insetos saem dos furos nos galhos e passam a viver na natureza. Esquisitos e às vezes bem barulhentos, os besouros são fonte de alimento para aves, peixes e pequenos roedores no Pantanal. 
 
Fonte:   Gazeta Online / Josana Salles



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Análise histórica da biodiversidade de Mato Grosso

O ano de 2010 vem sendo todo dedicado às comemorações acerca da biodiversidade mundial, neste ensaio, desejamos conscientizar o leitor, da participação de Mato Grosso e sua história de ocupação e exploração dos recursos naturais. Cabe ressaltar que para se fazer os “Diagnósticos Florestais”, se fazem necessários destacar o processo histórico das áreas em estudo, estabelecendo relações tanto das “perdas da cobertura vegetal”, como das principais atividades econômicas que ali se desenvolveram. Embora reconheça que esse estudo apresente algumas vantagens, isto é, uma visão geral das alterações de longa duração, no entanto, pretende-se, aqui fazer uma abordagem alternativa na qual se privilegia a análise histórica dos usos da biodiversidade em seus três biomas (cerrado, amazônico e pantanal).

Posto isso, percebe-se que “a perda da cobertura vegetal” originária, é resultante das atividades econômicas produzidas ao longo do processo histórico de ocupação mato-grossense e cujas análises anteriores nos remetem apenas a conjectura qualitativa relacionada ao uso da biodiversidade. Dentre estes aspectos destacam-se aqueles que dizem respeito às motivações, aspirações e necessidades que impulsionaram os agentes sociais a fazerem diferentes usos dos recursos naturais. Todavia, o papel que estes “usos” desempenharam nos projetos, nas condições de reprodução social e no cotidiano de diversificados grupos sociais, só revelam o modo de como se deu “a perda da cobertura vegetal” e como isso afetou e/ou afeta a vida da população mato-grossense.

Considerando esse “caldeirão” cultural e as diferenças sociais que caracterizam esta população, há que destacar que não só as elites políticas e empresariais faziam e/ou fazem os usos dos recursos naturais de Mato Grosso, como, também, outros segmentos e grupos sociais dependiam estritamente da utilização direta desses recursos sejam para sua sobrevivência, como da sua reprodução social.    Penso ser necessário, enfatizar que tais concepções não podem ser vistas aqui como um simples reflexo ideológico de determinações econômicas, mas, simultaneamente, como condição e produto de práticas político-sociais concretas – aspecto inerente e indissociável das relações que os homens travam entre si e com a natureza.

Nesta perspectiva, a análise procura dar conta da pluralidade de usos sociais da biodiversidade, suas diferentes práticas sociais e suas concepções; valores e ideias que sustentam e realimentam as relações entre o homem e o mundo natural. Evidencia-se o caráter radicalmente histórico da ação antrópica. Inserindo-a em contextos econômicos, políticos, sociais e culturais, ou seja, esta ação deve ser observada como o produto de relações entre os homens e de relações sociedade-natureza, no contexto histórico e cultural.

No que tange as populações indígenas é importante focar que esses usos dos recursos naturais constituem um aspecto fundamental para uma análise ampla da problemática dos usos sociais da biodiversidade. Contudo, a presença de vários grupos indígenas em Mato Grosso. De um lado, porque a história da apropriação dos recursos naturais existentes neste território, desde a chegada dos primeiros luso-brasileiros, se fez com base na expropriação das terras indígenas e nas alianças com eles formadas.    E, de outro, porque a colonização dificilmente teria se concretizado sem a apropriação/incorporação de saberes e práticas culturais destes povos, que permitiram ao não-índio “decodificarem” os recursos de uma natureza que, para estes, apresentava-se como hostil, primitiva, e selvagem. Cabe assinalar, que os usos da biodiversidade aqui subentendem, especificamente, aos recursos florestais.

Uma das características marcantes deste tipo de exploração é a permanente contradição que se estabelece entre os usos propriamente sociais dos recursos naturais – no sentido de que se destinam à subsistência e a reprodução de determinados grupos sociais e a apropriação, exploração e valorização destes recursos nos quadros de um sistema produtivo capitalista, sustentado, na expropriação da terra e das demais condições de subsistência das populações tradicionais.

O uso dos recursos por parte das populações excluídas, apresentou-se como um elemento vital para a sua reprodução social, suprindo necessidades de alimentação, moradia, vestuário, trabalho, lazer, transporte, saúde e constituindo-se, assim, num importante fator na melhoria das suas condições de vida. Estes usos, na medida em que não faziam parte da economia formal, foram sistemática e deliberadamente desconsiderados. Vistos pelas elites políticas e econômicas como improdutivos atrasados e primitivos, eram ainda condenados por permitir, em grande parte, a subsistência destas populações à margem do mercado e dos mecanismos de controle do capital.

Para estes grupos hegemônicos, os recursos naturais eram valorizados apenas na medida em que pudessem ser transformados em mercadorias e, dessa forma, incorporados na dinâmica capitalista. Esta concepção consolidou-se, historicamente, através de práticas políticas e econômicas que resultaram, não apenas no já conhecido processo de degradação e impacto ambiental, mas, sobretudo, em um violento processo de degradação da qualidade de vida das populações tradicionais e das comunidades indígenas.

Portanto, um processo social e cultural excludente. Socialmente injusto, na medida em que as maiores partes dos recursos naturais vão sendo, cada vez mais, apropriadas privadamente, beneficiando apenas uma parte da sociedade – os detentores do capital. “Culturalmente excludente, na medida em que a imposição de uma determinada forma de utilização dos recursos natural tida como superior” vem significando a desestruturação, ou no limite, a destruição da diversidade cultural, representada pelos povos indígenas e comunidades tradicionais.     Nesse quadro, conclui-se que as características do processo de expansão capitalista recente em Mato Grosso, por meio de empreendimentos privados, concentração da propriedade fundiária, modernização tecnológica (agrotóxicos e transgênicas), uso intensivo de capital e a mentalidade predatória insustentável, em seu conjunto, vêm impedindo o acesso aos recursos naturais, diminuindo sua quantidade e a sua diversidade e levando ao desaparecimento da rica variedade de usos sociais da biodiversidade.

Reduzindo de forma drástica as possibilidades de apropriação desses recursos por parcelas mais amplas da população, conforme suas necessidades e especificidades culturais tornando-se, privilégio apenas de uma pequena minoria social. Para reverter esta história de caos implica, sobretudo, romper com esse modelo, que, ao longo de séculos, encararam a natureza como fontes inesgotáveis de recursos e como propriedade de uso próprio fazendo dela fonte de acumulação de riquezas inesgotáveis e impondo dessa forma seus próprios métodos, padrões e concepções de uso indiscriminado e de exploração.

Fonte: Tribuna Mato Grosso / Ney Iared Reynaldo

(*) Ney Iared Reynaldo é doutor em História da América, docente do Departamento de História do campus local da UFMT  e Coordenador do Núcleo de Estudos e Atividades da Terceira Idade

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando a natureza "fala" Modificações em organismos vivos ajuda a detectar o nível de poluição atmosférica

O uso de espécies de vegetais e animais que indicam precocemente a existência de modificações biológicas ou abióticas de um ambiente é uma técnica que vem sendo usada nas duas últimas décadas por pesquisadores brasileiros para detectar o nível de poluição atmosférica em locais como Cubatão (SP), Bahia, Espírito Santo, Pará e, desde 2008, em Mato Grosso. Através de algumas plantas é possível identificar níveis de poluição e quais agentes poluidores contaminam o ar. A ciência já comprovou que os organismos vivos (algas e peixes também são usados como bioindicadores), frente à presença de fatores de estresse, apresentam a tendência de modificarem suas funções vitais de diferentes formas e em diferentes níveis. No caso das folhas dos vegetais, elas funcionam como bioacumuladores de metais presentes.

Em Mato Grosso, o biomonitoramento está sendo desenvolvido pela Coordenação de Vigilância Sanitária em Saúde Ambiental, relacionado à qualidade do ar, sob a responsabilidade do biólogo Wagner Luiz Peres, da Secretaria Estadual de Saúde (SES) em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).Os trabalhos iniciaram em Mirassol D"Oeste, município onde existe a produção de cana-de-açúcar e álcool e onde a população rural e urbana fica exposta à fumaça da queima da cana por vários meses. A planta escolhida como bioindicadora foi a trapoeraba-roxa (Tradescantia pallida), exótica e muito comum na arborização das cidades. Wagner diz que a escolha se deu por conta do alto nível de sensibilidade à poluição.

A planta foi retirada de cinco residências de Mirassol D"Oeste e levadas para um sítio a três quilômetros da cidade onde, segundo Wagner, não existe poluição. Elas ficaram por três meses num canteiro para depuração. Não foi usado nenhum tipo de fungicida, apenas o adubo NPK. Wagner conta que das 5 mudas foram feitas 25 floreiras colocadas em cinco pontos da cidade, onde os agentes de saúde identificaram fontes poluidoras do ar e, ao mesmo, tempo exposição da população aos agentes poluidores.

A técnica de leitura das folhas é bem simples. Primeiro são retirados os grãos de pólen da planta e passados para a lâmina de laboratório. Em seguida eles são esmagados e é usado um corante que demonstra a ocorrência de mutações. O material é enviado para a USP onde é transformado em pastilhas secas que passam por uma leitura com raio-x. Assim é possível identificar 20 elementos como chumbo, manganês, ferro, cobre, zinco, catmo, magnésio, alumínio, cloro, potássio e outros. O raio-x permite saber que elementos químicos poluentes estão presentes no ar e que foram acumulados na planta.

Cruzando estas informações com o banco de dados de doenças respiratórias, é possível chegar até a fonte poluidora. O biomonitoramento é uma ferramenta de baixo custo para identificar agentes poluidores, mas não é capaz de substituir os métodos analíticos e sim complementá-los em análises de risco ambiental.

Fonte:  Gazeta Digital / Josana Salles
 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O que é SWU?

Você já deve ter ouvido falar sobre o Protocolo de Quioto, a Conferência de Copenhague e de reuniões entre países para reduzir a emissão de gases poluentes, certo? Mas, quantas pessoas já leram algum desses acordos – e mais: o que isso tudo tem a ver com a sua vida?

Sim, essas grandes conferências e decisões são muito importantes. O problema é que, vendo as coisas acontecendo lá longe, na TV ou no jornal, parece que tudo está além de nosso alcance, que não podemos fazer nada para ajudar. Ok, o planeta tem que ser mais sustentável, mas, o que nós temos a ver com isso?

O SWU (Starts With You – Começa Com Você) é um movimento de conscientização em prol da sustentabilidade que tem o intuito de mobilizar o maior número possível de pessoas em torno da causa, mostrando que, por meio de pequenas ações, com simples atitudes individuais do seu dia a dia, é possível ajudar a construir um mundo melhor para se viver. O movimento nasceu da iniciativa de Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom, e parte da convicção de que pequenas atitudes podem gerar grandes mudanças.

Não poder resolver os grandes problemas do noticiário não significa que você está de mãos atadas. A primeira coisa que você pode fazer para salvar o planeta é fazer alguma coisa. Simples assim. Mude hábitos, mostre que é possível e, desta forma, contagie aquele que está aí, do seu lado. Começa com você!


Fonte:  swu.com

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Perspectiva 2010 O ano zero da economia limpa (continuação) Última parte

(Última postagem da matéria da revista Veja de dezembro de 2009, que foi postada em partes)





Svante Arrhenius era um desconhecido físico sueco quando, em 1896, fez um alerta: se a humanidade continuasse a emitir dióxido de carbono na atmosfera no mesmo ritmo que fazia desde a alvorada da Revolução Industrial, em 1750, a temperatura média do planeta subiria de maneira dramática, em decorrência do efeito estufa.

Pouca gente escutou o apelo de Arrhenius em seu tempo, um período sem carros, sem megalópoles, com apenas 1,2 bilhão de pessoas no mundo. Quase ninguém seguiu seu raciocínio na maior parte do século seguinte. Foi assim até que novas evidências científicas surgiram, além das catástrofes naturais. E nos anos 1960 brotou uma ideia romântica, utópica e alternativa de preservação da natureza. Ela hoje entrou na corrente principal do pensamento ocidental, ajudou a transformar os processos de produção industrial e moldou o perfil dos líderes empresariais que conduzem o capitalismo no século XXI. Há muito ainda a ser feito. Evidentemente, é um frágil equilíbrio, mas trata-se, agora, de agir já para pagar menos depois.

Um relatório produzido em 2006 pelo economista inglês Nicholas Stern, então no Banco Mundial, indica que investir imediatamente, a cada ano, 1% do PIB global pode evitar perdas de até 20% desse mesmo PIB até 2050. É informação que os líderes reunidos na COP15, em Copenhague, neste mês, tinham com nitidez. Esses números não os fizeram avançar muito, em uma cúpula que entrará para a história pelos tímidos resultados que ofereceu. Não há problema. Existe uma mensagem clara: os estados não se entendem, escorregam na burocracia e em interesses egoístas, mas a iniciativa privada saiu na frente. As empresas e a sociedade já fazem mais e melhor que os governos no combate ao aquecimento global. Eles ainda patinam para entregar sua principal - se não única - contribuição, a de definir um quadro institucional estável e favorável à livre-iniciativa, à inovação e ao empreendedorismo.

Nas próximas 62 páginas, VEJA faz um amplo painel dos lançamentos de produtos, das ideias e das posturas que, a partir de 2010, começarão a delinear mais claramente o cotidiano baseado na economia limpa.

As 10 ideias e posturas de um novo mundo

Ecodesign
1. O apagar das luzes da lâmpada de Edison
• Emissão zero em cidade nos Emirados Árabes

Carros elétricos
2. A chegada dos primeiros modelos de grandes montadoras

Executivos verdes
3. O perfil do líder moderno dentro das empresas

Energias renováveis
4. O vento é limpo mas ainda custa caro

Logística reversa
5. A reciclagem de resíduos já é bom negócio

Responsabilidade
6. Apagar o passivo ambiental vale dinheiro

Propaganda
7. A militância (e a polêmica) na publicidade

Globalização 2.0
8. A era da cidadania global

Capital natural
9. Está na hora de cobrar pelos recursos naturais

Créditos de carbono
10. Falta ainda saber quanto custa poluir

(todos os assuntos acima foram postados anteriormente)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Perspectiva 2010 O ano zero da economia limpa (continuação) Ecodesign

(Continuação da matéria da revista Veja de dezembro de 2009, que estou postando em partes)


1. Ecodesign

A reinvenção da luz
A lâmpada incandescente se apaga depois de 130 anos, em um dos mais fascinantes movimentos de inovação tecnológica de nosso tempo

Peça a uma criança para desenhar uma lâmpada – 100% delas farão um globo bojudo com um filamento em seu interior, no traço simples sem firulas, tal como foi patenteado pelo americano Thomas Alva Edison, em 27 de janeiro de 1880, há exatos 130 anos. Poucos produtos na história da civilização atravessaram um século, o XX, de modo tão decisivo e com tão poucas alterações na forma original. O que mudou, basicamente, foi o fio metálico, que, aquecido, emana calor e luz (90% do primeiro e apenas 10% do segundo, num show de desperdício) – antes ele era feito de carbono e hoje é de tungstênio.

Depois de uma década de lenta agonia – nos anos 1990 surgiram as fluorescentes compactas, que duram oito vezes mais –, as lâmpadas incandescentes, ou elétricas, agora parecem apagar de vez. Em todo o mundo, as legislações as tiram de tetos e abajures. Na Austrália, já em 2010 as de 40 watts não poderão mais ser vendidas. Na União Europeia, uma norma deflagrou a contagem regressiva, a partir de setembro de 2009, que culminará em 2012. Nos Estados Unidos, o limite é 2013. No Brasil, um projeto de lei ainda tramita no Congresso, mas ele trabalha com o mesmo prazo americano. É o fim de uma era.

É o símbolo, do ponto de vista do ecodesign, de todas as mudanças cuja locomotiva é a preocupação com o aquecimento global. Mudou-se o traço a serviço da inovação tecnológica. Na velocidade da luz, as compactas fluorescentes também parecem fadadas a sumir. Serão substituídas pelo LED, o acrônimo de diodo emissor de luz, em inglês. Nessa tecnologia, um semicondutor semelhante ao usado nos microcomputadores, quando atravessado por energia, emite luminosidade. As lâmpadas de LED convertem até 40% da energia consumida em luz. A redução no desperdício traz benefícios evidentes ao meio ambiente.      Nos países onde a eletricidade é produzida a partir da queima de combustíveis fósseis, essa economia significa 11% dos gases do efeito estufa na atmosfera. Se a metade de toda a iluminação mundial fosse convertida à tecnologia LED até 2025, seria possível economizar 120 gigawatts de eletricidade. Isso reduziria as emissões de dióxido de carbono em 350 milhões de toneladas por ano. Nos Estados Unidos, equivaleria a tirar 7,5 milhões de carros das ruas.

A troca das lâmpadas, por seu efeito didático, sempre foi entendida muito mais com romantismo do que com ciência. Deu-se a virada, em novembro passado, com um estudo conduzido pela Osram, a empresa alemã de iluminação, que serviu de xeque-mate. A descoberta: ao longo de toda a vida de uma lâmpada de LED – da manufatura ao acender da luz –, a energia utilizada é um quinto da compacta fluorescente, a antecessora natural. Sabia-se que o LED usa ínfima fração de eletricidade de uma lâmpada comum para produzir o mesmo montante de luz, mas havia uma dúvida: a fabricação e a distribuição, mais custosas, não poluiriam mais que as outras, indicando uma morte tecnológica prematura? Não. "Esse estudo entrega fatos onde antes havia apenas evidência emocional", diz Kaj den Daas, chefe executivo do departamento de iluminação da Philips nos Estados Unidos. Recentemente, a Philips lançou um modelo de LED prático, com o soquete igual ao dos bulbos de Edison e com luminosidade equivalente à incandescente de 60 watts. Deve chegar às lojas no fim de 2010.

O desenho dessa peça da Philips (veja quadro) é um aceno aos saudosistas, aos que já lamentam a perda do agradável amarelo das lâmpadas antigas e têm saudade antecipada dos desenhos de nossos filhos. Na Alemanha, tida como guardiã do ambiente, cidadãos estocam as incandescentes antes da morte anunciada. Desde julho, houve crescimento de 600% nas vendas. Ao produzir uma peça parecida no formato com o globo de vidro do fim do século XIX, a Philips fechou um ciclo para abrir outro.

Mas, ressalve-se, tudo é questão de hábito – as lâmpadas de Edison também foram recebidas, na virada do século retrasado para o passado, como afronta aos lampiões de gás e a sua luzinha verde-azulada. E que tal unir a inovação com o passado, o futuro com a nostalgia? Foi o que fez a cidade de Torraca, na região da Campânia, na Itália, que atravessará o réveillon de 2009 para 2010 como a primeira do mundo totalmente iluminada por LED. Ela é pequena, tem 700 ruas e apenas 1200 moradores, mas já virou ícone de sustentabilidade na elegante mistura de ruelas medievais com iluminação do século XXI. Tem sido celebrada, preservadas as diferenças históricas, como o Viaduto Holborn, na Londres de 1882, cujos postes de eletricidade foram acionados por Thomas Alva Edison.

O pioneirismo de Edison
Ele foi o primeiro empreendedor a incentivar o uso de energias alternativas

A primeira vez que a palavra sustentabilidade apareceu no The New York Times com o sentido que leva hoje foi em 1973, durante a crise do petróleo. A expressão ambientalismo despontou um pouco antes, em 1957. Meio século mais cedo, Thomas Alva Edison (1847-1931), o homem que tornou a lâmpada elétrica economicamente viável, já tinha preocupações que apenas recentemente os executivos mais sensatos começam a ter. Em um artigo de 1901, publicado pelo jornal The Atlanta Constitution, ele já sugeria o uso de moinhos de vento de modo a produzir energia para os cidadãos do campo, "para que eles possam ter luz durante a noite", sem depender do petróleo que movia as usinas de eletricidade. A primeira casa movida a energia eólica tinha sido construída em 1888, e a exploração de combustível fóssil mal completara quarenta anos de existência.

Atento ao crescimento do consumo nos Estados Unidos, ele chegou a selar um acordo com Henry Ford para desenvolver um carro elétrico que pudesse rivalizar com o Modelo T, o primeiro a sair em série das linhas de montagem. Ao mesmo tempo, ergueu uma casa ecologicamente correta, a "Residência Urbana do Século XX", com aquecimento feito por meio de claraboias, unidades de aquecimento solar e eólico – além, é claro, de dezenas de lâmpadas elétricas. Com o apoio de um gerador movido a gás, ele conseguia produzir energia para a casa e para a vizinhança. Hoje, pequenas geradoras de energia, descentralizadas e independentes da sobrecarregada rede oficial, são uma das alternativas mais celebradas em todo o mundo. Mas os sonhos de Edison fracassaram – sua residência suburbana foi incapaz de produzir energia própria sustentável, e os veí-culos elétricos deram lugar aos carros movidos a petróleo, economicamente mais viáveis. Mesmo as lâmpadas, que ele imaginava fossem virar produto de massa no fim dos anos 1880, só se espalharam no início do século XX. Havia naquele tempo, como existem hoje, objeções financeiras: "Não há como o sistema elétrico de Edison concorrer com o gás, mesmo que os capitalistas encontrem financiadores que ajudem a contribuir com a ideia em Nova York", anotou um artigo do New York Times em 1880.

Pioneiro, Edison só não está se virando no túmulo, com o fim da lâmpada incandescente, porque foi o primeiro entre os grandes empreendedores a entender a importância de não gastar todos os recursos do planeta e a buscar saídas limpas para a economia suja.

VISIONÁRIO
Inventor do modelo incandescente comercial (patente de 1880 ao lado), Edison já imaginava um mundo de pás de vento como alternativa ao petróleo


Oásis no deserto
Masdar, enclave em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, quer ser a primeira cidade totalmente ecológica do mundo – mas há o risco de ela virar um parque de diversões para excêntricos
           
Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos, o oitavo maior produtor de petróleo do mundo, um dos campeões em emissões per capita de dióxido de carbono, é o último lugar onde se imaginaria encontrar o futuro do movimento ambientalista. Pois ali, ironicamente, nasce uma fascinante experiência – a cidade de Masdar, projeto de 22 bilhões de dólares destinado a se transformar no primeiro aglomerado urbano com emissão zero dos gases que provocam o efeito estufa, totalmente movido a energia solar e reaproveitamento máximo do lixo. A arquitetura é do britânico Norman Foster, responsável por obras como a restauração do Reichstag, o Parlamento alemão, em Berlim, e o novo estádio de Wembley, nas cercanias de Londres. As primeiras fundações de Masdar começaram a surgir, firmes e fortes, em 2008. A inauguração está prevista para 2016.

"É uma imagem realmente forte", diz Rajendra Pachauri, o principal executivo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), prêmio Nobel da Paz em 2007. "Um país sem necessidade imediata de diversificação de energia dá um passo à frente, e ele pode servir de exemplo." Convém lembrar que Masdar abrigará apenas 40 000 pessoas – e com pouca gente tudo é mais fácil, especialmente manter o ar limpo. A cidade, que funcionará também como polo de atração tecnológica de energias renováveis – uma espécie de Vale do Silício destinado à sustentabilidade –, tem dois caminhos possíveis. O primeiro: virar laboratório para outras iniciativas na mesma direção, um olhar para as possibilidades do ecodesign aplicado ao urbanismo. O segundo: transformar-se numa espécie de Disney para excêntricos amantes do ambiente, um parque de diversões bilionário, mero oásis no deserto. O risco existe e não pode ser desprezado. "Para mim, é como uma prisão", diz Steffen Lehmann, da Universidade de Newcastle, na Austrália. "Será um enclave verde em meio a uma região do planeta que faz negócios como sempre." Em Abu Dhabi, "negócios como sempre" é sinônimo de gasolina barata e transporte público inexistente. Lá, o consumo de água por cidadão está entre os maiores do planeta. Tanta discrepância ao redor é o que faz de Masdar uma iniciativa que já chama atenção, como uma estufa verde cercada por areia e poços de petróleo.

(segue)

sábado, 18 de setembro de 2010

Perspectiva 2010 O ano zero da economia limpa (continuação) Carros elétricos

(Continuação da matéria da revista Veja de dezembro de 2009, que estou postando em partes)

 
2. Carros elétricos

Eles vão acelerar ou frear
as mudanças climáticas?
As duas coisas ao mesmo tempo, porque não soltam fumaça pelo
escapamento mas consomem energia que nasce em usinas poluidoras

O calendário de lançamentos de carros elétricos em 2010 parece indicar uma nova etapa na história da indústria automobilística. No fim de 2010, a GM porá nas ruas dos Estados Unidos o Volt. A Nissan entregará o Leaf na Europa e na Ásia. Nenhum dos dois modelos chegará tão cedo ao Brasil. O Volt deve custar algo ao redor de 32 000 dólares. O Leaf não tem preço estimado, mas está sendo anunciado como um produto barato, na cola dos veículos pequenos de passeio. Ambos transportam uma novidade: são realmente 100% elétricos, e não híbridos, como o Prius, da Toyota. O Prius anda prioritariamente com um motor elétrico – quando o motorista precisa de mais potência, um segundo motor, a gasolina, começa a funcionar. O Volt tem um motor elétrico e outro a gasolina, mas só o primeiro faz o carro rodar. Com ele é possível percorrer 64 quilômetros. Ao atingir essa marca, o motor a gasolina passa a funcionar para ativar um gerador que produz energia e recarrega a bateria.

"Não é um falso amanhecer", diz Paul Scott, vice-presidente e fundador da Plug In, uma organização americana que durante muito tempo acusou as montadoras de pouco fazerem em nome dos automóveis elétricos. "Agora o jogo é real." Aposta-se no sucesso – a GM acredita chegar a dezenas de milhares de unidades vendidas até 2013, embora não tenha números precisos – pelo exemplo de outras rápidas explosões tecnológicas atreladas a inovação. "É como o iPhone", compara Bruce Nilles, especialista americano em energia e poluição. "As pessoas podem desejar ter um carro elétrico na garagem porque ele é politicamente correto, e não custa nada estar do lado do bem."

Um olhar mais atento – subtraídos o fascínio na-tural e a ânsia de encontrar uma boia para tirar as três grandes montadoras de Detroit (GM, Ford e Chrysler) da lama – indica, sim, uma possível falsa largada, uma segunda freada, tal como ocorreu em meados da década de 90 com o EV1, o primeiro veículo elétrico moderno produzido por uma grande marca, a GM. Os EV1 foram lançados em 1996, apenas para leasing – eram pouco mais de 1 000 unidades, majoritariamente na Califórnia e Arizona –, mas deixaram de circular em 1999. Entre 2003 e 2004, já com a produção interrompida, saíram do mercado, levados a desmanche ou oferecidos a museus e universidades. Tornaram-se párias, retrato de um tempo industrial que se queria apagar. "Quem matou o carro elétrico?", pergunta um documentário premiado, disponível nas locadoras brasileiras. Não há apenas um suspeito. A pressão da indústria petrolífera ajudou. A própria GM percebeu que era ideia deficitária. Além disso, a fragilidade da rede de realimentação das baterias – e a baixa autonomia que elas ofereciam – decretou a marcha a ré.

No documentário, o ator Tom Hanks, sempre muito certinho, aparece em um trecho do programa David Letterman Show. Instado a dizer por que gostava de andar num modelo sem gasolina, respondeu: "Porque quero salvar os Estados Unidos". Se não deu certo naquele tempo, por que daria agora? É difícil, por óbvio, salvar os Estados Unidos, se é que os Estados Unidos precisam ser salvos, apenas trocando de carro – e entender isso é olhar as características do elétrico confrontado com os modelos tradicionais.

Uma pergunta se impõe: o elétrico é um risco ou uma solução para o planeta? "Os automóveis elétricos devem ser recompensados por sua eficiência energética, não por transferirem as emissões de gases dos escapamentos para as chaminés das usinas", anota relatório da Associação Britânica Ambientalista de Transporte. Em outras palavras: as emissões de dióxido de carbono pelo carburador inexistem nos carros elétricos, e no entanto eles só poderão circular porque recebem eletricidade produzida em muitos países por usinas movidas a combustível fóssil. De nada adianta usar um automóvel elétrico na China, por exemplo, se as usinas geradoras são alimentadas por carvão. Estimativas americanas indicam que, se eventualmente 250 000 carros elétricos fossem plugados para recarga ao mesmo tempo em um início de noite, seria necessário erguer outras 160 usinas de energia nos Estados Unidos apenas para alimentá-los. "Não será nada agradável ser acusado pelo vizinho do blecaute de todas as noites", ironiza Ed Kjaer, diretor de transporte elétrico de uma operadora de eletricidade da Califórnia. Há outro alerta no estudo: no melhor dos cenários, apenas no ano de 2030 esses veículos produzirão impacto real na diminuição das emissões, quando houver frota maior dessa família automobilística nas ruas e estradas.

Até lá as questões são mais comezinhas. Como superar a principal dificuldade, a reduzida autonomia da bateria? Há avanços, mas ainda assim a bateria de lítio do Volt, versão avantajada das que equipam celulares e laptops, deve custar em torno de 10 000 dólares, com 200 quilos. Solução mais interessante – a caminho de uma mudança de modelo, ainda sutil – encontrou a Renault-Nissan ao selar parceria com uma empresa israelense, a Better Place (em inglês, lugar melhor, referência ao objetivo de criar um mundo mais verde). O plano prevê a instalação de uma ampla rede de 500 000 pontos de recarga, além de postos de troca de baterias em Israel, onde haverá o teste piloto. As baterias poderão ser recarregadas de duas maneiras: em postos especializados ou simplesmente pela troca das gastas por novas, completas, sem perda de tempo. É ideia próxima à das operadoras de celular. Há planos de oferecer o equipamento a preço baixo, sem impostos (o carro), em troca da fidelidade na compra dos serviços (energia, sob a forma de baterias carregadas). Não parece estar no cerne da sustentabilidade, mas é um avanço imenso – o próximo passo pode ser o compartilhamento de veículos, como já ocorre com um sistema de aluguel de bicicletas em Paris, o Vélib. Filho dessa iniciativa, no fim de 2010 passa a funcionar o Autolib, o carro individual de uso coletivo.

Em Curitiba, o urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito da cidade, apresentou recentemente o protótipo de um veículo elétrico para um passageiro inspirado no sistema parisiense. A ideia é que os carrinhos sejam alugados em áreas de grande circulação, próximo a terminais de ônibus ou metrô. Os usuários poderão retirá-los e devolvê-los em qualquer estação, pagando com cartão de crédito. Do ponto de vista do consumidor, pode ser um grande negócio – afinal, pagamos (e bem) por um automóvel para usá-lo apenas umas três horas por dia; nas outras 21 ele fica parado. O dinheiro economizado dá e sobra para alugar um belo carrão na hora de namorar, fazer compras e passear com a família.

O difícil será superar um dos monumentos do consumo nos séculos XX e XXI – o anseio de cada pessoa ter o seu carro, símbolo de independência e liberdade, mesmo colado a modismos e exageros. Além disso, a maioria dos proprietários insiste em levar apenas uma pessoa dentro do veículo, ou seja, o próprio motorista. Enquanto a nova realidade não chega, o modo de aliviar a poluição e o trânsito continuará sendo o bom senso, a combinação entre transporte coletivo, carona, bicicletas e caminhadas, onde for possível.


(segue)

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