quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Ainda é baixa a disposição dos consumidores brasileiros mais conscientes para mobilizar a coletividade,mas é considerável sua disposição de divulgar os produtos das empresas responsáveis." (Instituto Akatu)

A vanguarda dos consumidores informados e ativos no exercício do consumo consciente ainda tende a cuidar mais dos seus próprios atos do que a agir em prol da mobilização social, e também prefere ser mais propositiva a ser punitiva em relação às empresas. Mais gente se dispõe a comprar produtos para incentivar as empresas responsáveis do que a deixar de fazê-lo para punir as irresponsáveis. As evidências sugerem que as empresas brasileiras deveriam dar mais atenção às ações que contribuem para construir sua reputação do que à simples propaganda.

Realizada em janeiro de 2005 entre 600 consumidores previamente definidos como "mais conscientes" segundo metodologia de segmentação do Instituto Akatu – 300 em São Paulo, 150 em Porto Alegre e 150 em Recife, representantes de 43% da sociedade brasileira – a pesquisa "Consumidores Conscientes: o que pensam e como agem" baseia-se num questionário sobre 20 temas selecionados como "eixos pedagógicos", com quatro perguntas para cada um, num total de 80 questões. O detalhamento da percepção dos entrevistados configura-a como ferramenta de avaliação capaz de aferir o estado e o progresso das práticas do consumo consciente no Brasil. Das 80 questões, 37 tratam de valores e opiniões e 43 abordam comportamentos e atitudes, distinção necessária uma vez que não é raro um consumidor declarar-se favorável a uma idéia, mas não traduzir esse apoio em ações concretas. De fato, registra-se mais adesão a valores (70% de respostas positivas), do que a comportamentos (58% de respostas positivas).

Em termos de comportamento prático, as respostas obtidas configuram a existência de um bloco de "grandes adesões" (configurado por respostas positivas de mais de 80% dos entrevistados), um bloco de questões de "baixa assimilação" (com respostas negativas de mais de 35% dos entrevistados) e um bloco de questões "polêmicas" (com alto grau de indefinição, representado por mais de 40% de respostas indefinidas, ou por percentuais de respostas positivas e negativas muito próximos entre si).

As "grandes adesões" configuram, em geral, comportamentos "de eficiência", associados a uma economia no uso de recursos, perceptível ao consumidor a curto prazo. Assim, entre os entrevistados:

• 98% evitam deixar lâmpadas acesas em ambientes desocupados.

• 97% desligam aparelhos eletrônicos quando não estão em uso.

• 96% manifestam disposição de recorrer a órgãos de defesa do consumidor.

• 95% fecham a torneira quando escovam os dentes.

• 94% esperam que os alimentos esfriem antes de guardar na geladeira.

• 90% participaram ativamente do esforço contra o "apagão" de energia.

• 85% escolhem escolas considerando a qualidade e o sistema de ensino.

As questões onde encontramos uma destacada "baixa assimilação" entre os consumidores "conscientes" e "comprometidos" são, em sua maioria, relacionadas especificamente às decisões de compra.

• Uma parcela muito significativa desse público ainda não condiciona, com freqüência, suas decisões de compra a considerações sociais ou ambientais, principalmente se para isso houver dificuldades como preço mais elevado ou dificuldade de informação (caso dos orgânicos e das madeiras certificadas).

• Por outro lado, nos casos onde essas dificuldades são menores (caso de benefícios genéricos ao meio ambiente ou uso de reciclados), parcelas maiores desse público já declaram usar estes critérios de escolha com freqüência.

• A relutância em apresentar denúncias a ONGs ou agências do governo também existe em grande parte desse público.

Revela-se, por exemplo, que:

• 58% não compram produtos orgânicos;

• 53% não verificam a certificação de produtos madeireiros ou florestais;

• 42% não fizeram recentemente alguma compra tendo o meio ambiente como primeiro critério;

• 40% não denunciam fontes de poluição;

• 37% não fizerem recentemente compras de produtos reciclados;

Entre as "questões polêmicas", com alta margem de indefinição, três grandes tendências podem ser identificadas. A primeira, quanto ao uso deliberado do poder de compra para influenciar empresas.

Nesse aspecto, o público pesquisado se mostra ainda dividido: o percentual dos que fazem isso "sempre" é bem próximo ao dos que não o fazem "nunca" e, em geral, o maior percentual é dos que fazem isso apenas "às vezes". Embasando essas conclusões temos que

• 28% freqüentemente deixam de comprar produtos por punição, 28% raramente ou nunca deixam, 43% o fazem eventualmente.

• 37% freqüentemente praticam e incentivam a consumo de "produtos responsáveis", 21% não o fazem, 42% o fazem eventualmente.

• 36% freqüentemente incentivam pessoas a comprar produtos de empresas responsáveis, 19% não o fazem, 45% o fazem eventualmente.

• 41% têm o hábito regular de divulgar empresas que consideram socialmente responsáveis, enquanto 37% não o fazem, e 22% o fazem eventualmente.

A segunda tendência, que também emerge das questões acima, mostra que há uma aparente preferência dos entrevistados em incentivar as empresas responsáveis consumindo seus produtos e divulgando-as. É menor o percentual dos que declaram cancelar o consumo como forma de punição a empresas irresponsáveis. A idéia de que os consumidores são mais ativos para criticar uma empresa que os decepciona do que para elogiar uma empresa que os satisfaz, pode ser válida para a satisfação pessoal, mas aparentemente não o é para o engajamento em prol de causas coletivas.

A terceira grande tendência identificada através das questões "polêmicas" diz respeito à relativamente grande resistência do consumidor quando não se trata de cuidar apenas de seus próprios atos, mas de agir para mobilizar outros. Aparentemente, a cultura de isolamento, de foco exclusivo no trabalho, no estudo ou na carreira, e a desvalorização dos espaços de convivência e atuação pública dificultam uma interação pró-ativa da cidadania. A superação desses impasses é, sem dúvida, um dos maiores desafios para o movimento do consumo consciente. As respostas a várias questões relacionadas com esses comportamentos "de mobilização" revelam que:

• 29% freqüentemente incentivam pessoas que conhecem a pressionar os políticos por melhores leis, 33% não incentivam, 38% o fazem eventualmente.

• 32% freqüentemente se manifestam contra propaganda inconveniente ou imprópria, 28% não se manifestam, 40% o fazem eventualmente.

• 30% freqüentemente discutem com amigos soluções para problemas sociais e ambientais, 27% não discutem, 43% o fazem eventualmente.

• 30% freqüentemente se mobilizam para incentivar as empresas a corrigirem erros, 26% não o fazem, 44% o fazem eventualmente.

• 35% freqüentemente estimulam amigos a participar de movimentos sociais, 24% não o fazem, 41% o fazem eventualmente.

• 25% apóiam regularmente entidades ambientalistas, com trabalho ou recursos materiais, enquanto 35% não o fazem e 40% o fazem eventualmente.

Adicionalmente – com base na análise dos resultados sob os aspectos de "valores" e de "comportamentos", sob as perspectivas social, ambiental e pessoal – foi verificado que, coerentemente com o senso comum, é maior a tendência do público para concordar com as opiniões esperadas de um consumidor consciente, do que para adotar as práticas correspondentes no seu dia-a-dia. Nesse sentido, os percentuais de concordância com os "valores" investigados é praticamente o mesmo, tanto para os consumidores do tipo “conscientes” (grupo com grau mais elevado de consciência no consumo, quanto para os do tipo "comprometido" (com grau de consciência abaixo do outro grupo, mas maior que a média da população). Já em relação aos "comportamentos", o percentual de assimilação é bem maior no grupo dos “conscientes”.

Concluindo, vimos que o percentual de assimilação de valores pelas perspectivas "social", "ambiental" e "pessoal" pelos consumidores pesquisados é semelhante, sendo, respectivamente, de 70%, 68% e 65%. Já no que diz respeito aos "comportamentos", o percentual de assimilação sob a perspectiva "pessoal" é o maior (63%) seguido da perspectiva "ambiental" (56%), e vindo por último a perspectiva "social" (52%). Ou seja, é na perspectiva "social" que encontramos a maior "distância entre intenção e gesto", como se conclui vendo a assimilação de 70% para os "valores", contra 52% para os "comportamentos".


Fonte:  Instituto Akatu - Consumidores conscientes: o que pensam e como agem
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