quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando a natureza "fala" Modificações em organismos vivos ajuda a detectar o nível de poluição atmosférica

O uso de espécies de vegetais e animais que indicam precocemente a existência de modificações biológicas ou abióticas de um ambiente é uma técnica que vem sendo usada nas duas últimas décadas por pesquisadores brasileiros para detectar o nível de poluição atmosférica em locais como Cubatão (SP), Bahia, Espírito Santo, Pará e, desde 2008, em Mato Grosso. Através de algumas plantas é possível identificar níveis de poluição e quais agentes poluidores contaminam o ar. A ciência já comprovou que os organismos vivos (algas e peixes também são usados como bioindicadores), frente à presença de fatores de estresse, apresentam a tendência de modificarem suas funções vitais de diferentes formas e em diferentes níveis. No caso das folhas dos vegetais, elas funcionam como bioacumuladores de metais presentes.

Em Mato Grosso, o biomonitoramento está sendo desenvolvido pela Coordenação de Vigilância Sanitária em Saúde Ambiental, relacionado à qualidade do ar, sob a responsabilidade do biólogo Wagner Luiz Peres, da Secretaria Estadual de Saúde (SES) em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).Os trabalhos iniciaram em Mirassol D"Oeste, município onde existe a produção de cana-de-açúcar e álcool e onde a população rural e urbana fica exposta à fumaça da queima da cana por vários meses. A planta escolhida como bioindicadora foi a trapoeraba-roxa (Tradescantia pallida), exótica e muito comum na arborização das cidades. Wagner diz que a escolha se deu por conta do alto nível de sensibilidade à poluição.

A planta foi retirada de cinco residências de Mirassol D"Oeste e levadas para um sítio a três quilômetros da cidade onde, segundo Wagner, não existe poluição. Elas ficaram por três meses num canteiro para depuração. Não foi usado nenhum tipo de fungicida, apenas o adubo NPK. Wagner conta que das 5 mudas foram feitas 25 floreiras colocadas em cinco pontos da cidade, onde os agentes de saúde identificaram fontes poluidoras do ar e, ao mesmo, tempo exposição da população aos agentes poluidores.

A técnica de leitura das folhas é bem simples. Primeiro são retirados os grãos de pólen da planta e passados para a lâmina de laboratório. Em seguida eles são esmagados e é usado um corante que demonstra a ocorrência de mutações. O material é enviado para a USP onde é transformado em pastilhas secas que passam por uma leitura com raio-x. Assim é possível identificar 20 elementos como chumbo, manganês, ferro, cobre, zinco, catmo, magnésio, alumínio, cloro, potássio e outros. O raio-x permite saber que elementos químicos poluentes estão presentes no ar e que foram acumulados na planta.

Cruzando estas informações com o banco de dados de doenças respiratórias, é possível chegar até a fonte poluidora. O biomonitoramento é uma ferramenta de baixo custo para identificar agentes poluidores, mas não é capaz de substituir os métodos analíticos e sim complementá-los em análises de risco ambiental.

Fonte:  Gazeta Digital / Josana Salles
 

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