sábado, 3 de julho de 2010

Jardim: Dê uma chance ao verde


Livro mostra alternativas para assegurar a preservação de espécies de fauna e flora nas regiões urbanas com a adoção de plantas nativas
 
Bem-te-vis, saracuras, beija-flores, borboletas, gambás, vaga-lu­mes são criaturas facilmente vistas no quintal da casa de Siddhar­tha. A área verde, localizada no meio de Curitiba, no bairro Cen­tro Cívico, começou a ser recuperada há 15 anos pelo místico inglês, de ascendência italiana. Os animais e insetos voltaram a aparecer no jardim holandês abandonado, depois que a vegetação exótica foi substituída por plantas nativas. A transformação feita pelas mãos de Siddhartha é uma das cinco experiências retratas no livro Cultura e Bio­diversidade nos Jardins de Curitiba, que a ONG Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS) lança hoje na capital paranaense. “O que importa não é a sensação pessoal de usufruir o prazer de estar junto à natureza, mas o compromisso de zelar, em todas as instâncias possíveis, para a conservação da biodiversidade”, é a opinião de Siddhartha, reproduzida na capa do livro.

A obra pretende mostrar como é possível recuperar a biodiversidade original e fomentar a prática de manejo conservacionista nas regiões urbanas. A ideia é transformar um jardim convencional em um jardim conservacionista ou nativo, o que significa adotar ações de jardinagem ou paisagismo ecologicamente comprometidas e que na forma e no conteúdo “imitam” a natureza.
Naturalidade
Confira os benefícios de um jardim nativo:

> Reduz o custo de implantação e manutenção, já que as plantas nativas são adaptadas ao clima e às condições locais.

> Requer pouca manutenção, o que significa menos poda, irrigação, aplicação de agrotóxicos e adubações.

> A manutenção conta com folhas e galhos caídos, que retomam o ciclo da natureza ao se decompor com a atividade de organismos do solo, tornando-o mais fértil e propício para o crescimento de plantas. Possibilita a sobrevivência da fauna local e perpetua os ecossistemas originais.

> O aproveitamento de resíduos vegetais (restos de verduras e frutas da cozinha) permite a adubação orgânica, mediante uso de técnicas de compostagem, e reduz a quantidade de lixo produzido e encaminhado para os aterros sanitários.

> A manutenção das áreas nativas afeta variáveis ligadas à qualidade da água, do ar, à manutenção da fertilidade dos solos e ao equilíbrio climático; 

> A demanda pela aquisição de mudas nativas estimula paisagistas e viveiristas a cultivar e reproduzir biodiversidade, produzindo mais mudas, inclusive as espécies ameaçadas; 

> A vegetação pode reduzir a intensidade da reflexão da luz solar em construções, bem como melhorar qualidade do ar e do clima e ainda minimizar ruídos.

O planejamento deste tipo de jardim envolve aspectos co­­muns à implantação de qualquer outro. É preciso analisar o espaço disponível, o solo, a escolha de espécies e do manejo necessário. A diferença está no objetivo final, que é contribuir para a preservação de espécies de fauna e flora nativas. Segun­do o engenheiro florestal Pablo Melo Hoffmann, um dos organizadores do livro, a primeira re­­gra é investigar as espécies originais do bioma ou ecossistema da área. É necessário diferenciar as espécies nativas (originais da região) das exóticas (transplantadas de outros biomas ou ecossistemas). O principal problema é identificar as espécies exóticas invasoras, que se proliferam descontroladamente e acabam sendo responsáveis por desequilíbrios ambientais. 

Em relação à escolha de espécies nativas que substituirão as exóticas, é preciso considerar características ecológicas como a disputa de espaço entre elas, a tolerância à luz solar ou à sombra, a tolerância à umidade ou à seca e o tipo de solo do terreno. Outra coisa para se ter em mente é que a baixa variedade de espécies representa menor resistência, se uma praga ou doença atacar as plantas. “Quan­­to mais diversidade a área permitir, melhor”, afirma Hoffmann. Ele lembra também que é importante pensar o jardim como um microecossistema, já que o desenvolvimento de algumas plantas pode interferir no aspecto geral do jardim e no crescimento de espécies diferentes. Um arbusto frutífero, por exemplo, pode atrair aves que propiciam a dispersão de outras plantas através das sementes contidas em suas fezes. Assim como árvores de crescimento acelerado, que oferecem sombra, podem influenciar tanto o aparecimento quan­­to o desaparecimento de animais e outras plantas.

Romper com alguns paradigmas estéticos convencionais como atributos de ordem, harmonia e simetria é outra condição importante para o sucesso do jardim nativo apontada por Hoffmann. Se os espaços têm a perspectiva de imitar a natureza, eles consequentemente vão guardar as características de assimetria, desordem e mutação presentes nos ambientes originais. Neste sentido, vale lembrar que varrer o quintal, por exemplo, para limpar o terreno das folhas, flores, frutos e galhos caídos, não é recomendado, porque a decomposição da matéria orgânica propicia o desenvolvimento de micro-organismos necessários para o equilíbrio do ecossistema. “O conceito de beleza nos jardins nativos é outro. A beleza está em apreciar a forma como a natureza se desenvolve”, explica o engenheiro florestal.


Fonte:  Gazeta do Povo / Aniela Almeida

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