sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Preservar biodiversidade exige recursos e tecnologia - Paulino Franco de Carvalho Neto, negociador do Brasil na COP-10 da Convenção sobre Diversidade Biológica

Paulino Franco de Carvalho Neto, chefe da Divisão de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e negociador do Brasil na COP-10 da Convenção sobre Diversidade Biológica, afirma que a principal reivindicação do País na reunião não é dinheiro. Para ele, o "crucial" é a transferência de tecnologia dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento.

Quais são os temas cruciais para o Brasil na COP-10?

Para o Brasil, os temas cruciais para esta COP são a adoção do Protocolo de Acesso e Repartição de Benefícios (Protocolo ABS), do novo Plano Estratégico da Convenção sobre Diversidade Biológica e de uma estratégia de mobilização de recursos que garanta recursos suficientes aos países para cumprir com as metas acordadas. Este último ponto é importante não apenas para o Brasil, mas para os países em desenvolvimento em geral. Isso nos auxiliará na valoração dos recursos genéticos e conhecimento tradicional associado, ou seja, aquele ligado a medidas, práticas e inovações de comunidades indígenas e locais, além de permitir que sejam colocadas em prática medidas contra a biopirataria. Por último, existe a questão dos recursos financeiros necessários aos países para que coloquem em práticas medidas eficazes de conservação e uso da biodiversidade.

E quais são as posições defendidas pelo Brasil?

O Brasil defende a adoção de um documento eficaz e efetivo, que ajude os países no combate à biopirataria, valorizando seus recursos genéticos e conhecimento tradicional associado. O governo entende que a pesquisa e a agricultura, setores que utilizam intensamente recursos genéticos, deverão ser levados em consideração, contando com provisões especiais.

Quais são as decisões que precisam ser tomadas para que a conferência não seja considerada um fracasso?

É preciso notar que a Conferência das Partes é feita pelos Estados, e as decisões são tomadas por consenso. A adoção de um tratado internacional é sempre um evento de grande importância. Mas, se ele não for de fato efetivo, o melhor é não termos instrumento. Além disso, a adoção de um Plano Estratégico com metas adequadas, acompanhada por uma estratégia de mobilização de recursos que garanta fluxos financeiros aos países em desenvolvimento, servirá para dar impulso à Convenção sobre Diversidade Biológica. Mesmo no Brasil, a biodiversidade ainda não está na agenda nacional como poderia.

Quais são os principais entraves nas discussões?

Uma das principais preocupações do Brasil é garantir que haja repartição dos benefícios advindos da utilização dos recursos genéticos contidos em nossa biodiversidade e esses recursos sejam utilizados em cumprimento com nossa legislação nacional - e não inadequadamente apropriado ou patenteado, por exemplo. Ocorre que existe forte oposição de alguns países desenvolvidos, que se opõem à implementação de regime mais efetivo. Nesse caso, o Brasil poderia considerar uma alternativa regional, o que ainda precisa ser discutido.

As negociações são polarizadas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, a exemplo do que ocorre nas negociações climáticas?

Existe polarização na medida em que os maiores detentores de biodiversidade são países em desenvolvimento, que, por sua vez, não contam com recursos suficientes para implementar programas de preservação e uso sustentável do meio ambiente. Isso se reflete nas discussões políticas. Não obstante, há outros componentes a serem levados em consideração, então não é apenas uma questão de aderir a uma discussão polarizada entre desenvolvidos versus em desenvolvimento. O Brasil tem sido cada vez mais singularizado, por ser um País de vasta biodiversidade, mas também um forte exportador agrícola e com pesquisa crescente em biotecnologia. Passa a assumir o papel não apenas de receptor, mas de promotor de cooperação.

As ações do Brasil com relação à convenção estão condicionadas a apoio financeiro e tecnológico dos países ricos?

O Brasil sempre defendeu recursos adicionais aos países em desenvolvimento, mas a questão crucial que se coloca para o País não recai somente sobre fluxo financeiro, recai sobre a transferência de tecnologia.

Qual o incentivo para que países cumpram as determinações?

A Convenção sobre Diversidade Biológica é um tratado internacional, de caráter obrigatório. As decisões da Conferência das Partes, de caráter político, são tomadas por consenso, mas não existem sanções para nações que não as cumprirem. Negligenciar o meio ambiente e negar o momento para a ação, para que se reverta a perda da biodiversidade, não parece ser uma saída razoável.


Fonte:  Herton Escobar - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A importância dos besouros do Pantanal

Quem já não se assustou com o vôo estridente de um besouro sobrevoando as plantas? Esses seres fazem parte de um mundo animal ainda bem desconhecido e são geralmente marginalizados por serem chamados de insetos horripilantes. Embora pequenos, os besouros possuem articulações firmes e fortes, capazes de agarrar a fêmea ou cortar um galho. Recentemente, cientistas ingleses afirmaram que o besouro rinoceronte (Oryctes rhinoceros), que vive em florestas tropicais da América do Sul, é o mais forte de todos os insetos. Não se pode afirmar qual o número real de espécies de besouros catalogados, mas se fala em cerca de 300 mil em todo o mundo. 

Em Mato Grosso as investigações científicas com relação a este inseto estão mais focadas no ecossistema pantaneiro. Pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) estudam a ecologia e taxinomia de artrópodes (apêndices articulados) e, desde 1977, formaram um grupo para conhecer a biodiversidade na região do Pantanal, entender como esses bichos reagem ao estresse hídrico (seca/cheia/vazante) e a função ambiental que exercem no ecossistema. 

Marinez Isaac Marques, professora e doutora em Ciências Biológicas com especialização em entomologia da UFMT, afirma que o Pantanal tem grande população de besouros, mas com pouca diversidade de espécies. Os estudos são direcionados para as famílias Scarabalidae, com destaque para o popular rola-bosta; Ceramibyeidae, chamados de serra-pau; Staphilinidae e os Curculionidae, um besouro semi-aquático presente nos igarapés do Pantanal. 

Marinez vem desenvolvendo pesquisas para estudar a relação especial que o besouro aquático tem com a planta. "Ao analisarmos sua estrutura, percebemos que ele tem pelos e um sistema respiratório que permite que sobreviva na água e dentro da planta por muito tempo. Ao se reproduzirem ali, esses besouros soltam ovos e larvas que vão destruindo a planta de forma natural, o que mantém um certo controle no crescimento dos igarapés. É, portanto, uma função que esse bicho tem naquele ambiente". A pesquisadora avalia que vem encontrando outras espécies de besouros neste ambiente "o que pode nos indicar que existem espécies ainda desconhecidas". 

Nas árvores pantaneiras, os besouros chamados de serra-pau fazem a ovoposição nos galhos e usam o ferrão na barriga para furar o pau e colocar os ovos. Assim que ovula essa espécie usa a força da mandíbula para serrar o galho. Assim que o Pantanal começar a encher, os insetos saem dos furos nos galhos e passam a viver na natureza. Esquisitos e às vezes bem barulhentos, os besouros são fonte de alimento para aves, peixes e pequenos roedores no Pantanal. 
 
Fonte:   Gazeta Online / Josana Salles



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Análise histórica da biodiversidade de Mato Grosso

O ano de 2010 vem sendo todo dedicado às comemorações acerca da biodiversidade mundial, neste ensaio, desejamos conscientizar o leitor, da participação de Mato Grosso e sua história de ocupação e exploração dos recursos naturais. Cabe ressaltar que para se fazer os “Diagnósticos Florestais”, se fazem necessários destacar o processo histórico das áreas em estudo, estabelecendo relações tanto das “perdas da cobertura vegetal”, como das principais atividades econômicas que ali se desenvolveram. Embora reconheça que esse estudo apresente algumas vantagens, isto é, uma visão geral das alterações de longa duração, no entanto, pretende-se, aqui fazer uma abordagem alternativa na qual se privilegia a análise histórica dos usos da biodiversidade em seus três biomas (cerrado, amazônico e pantanal).

Posto isso, percebe-se que “a perda da cobertura vegetal” originária, é resultante das atividades econômicas produzidas ao longo do processo histórico de ocupação mato-grossense e cujas análises anteriores nos remetem apenas a conjectura qualitativa relacionada ao uso da biodiversidade. Dentre estes aspectos destacam-se aqueles que dizem respeito às motivações, aspirações e necessidades que impulsionaram os agentes sociais a fazerem diferentes usos dos recursos naturais. Todavia, o papel que estes “usos” desempenharam nos projetos, nas condições de reprodução social e no cotidiano de diversificados grupos sociais, só revelam o modo de como se deu “a perda da cobertura vegetal” e como isso afetou e/ou afeta a vida da população mato-grossense.

Considerando esse “caldeirão” cultural e as diferenças sociais que caracterizam esta população, há que destacar que não só as elites políticas e empresariais faziam e/ou fazem os usos dos recursos naturais de Mato Grosso, como, também, outros segmentos e grupos sociais dependiam estritamente da utilização direta desses recursos sejam para sua sobrevivência, como da sua reprodução social.    Penso ser necessário, enfatizar que tais concepções não podem ser vistas aqui como um simples reflexo ideológico de determinações econômicas, mas, simultaneamente, como condição e produto de práticas político-sociais concretas – aspecto inerente e indissociável das relações que os homens travam entre si e com a natureza.

Nesta perspectiva, a análise procura dar conta da pluralidade de usos sociais da biodiversidade, suas diferentes práticas sociais e suas concepções; valores e ideias que sustentam e realimentam as relações entre o homem e o mundo natural. Evidencia-se o caráter radicalmente histórico da ação antrópica. Inserindo-a em contextos econômicos, políticos, sociais e culturais, ou seja, esta ação deve ser observada como o produto de relações entre os homens e de relações sociedade-natureza, no contexto histórico e cultural.

No que tange as populações indígenas é importante focar que esses usos dos recursos naturais constituem um aspecto fundamental para uma análise ampla da problemática dos usos sociais da biodiversidade. Contudo, a presença de vários grupos indígenas em Mato Grosso. De um lado, porque a história da apropriação dos recursos naturais existentes neste território, desde a chegada dos primeiros luso-brasileiros, se fez com base na expropriação das terras indígenas e nas alianças com eles formadas.    E, de outro, porque a colonização dificilmente teria se concretizado sem a apropriação/incorporação de saberes e práticas culturais destes povos, que permitiram ao não-índio “decodificarem” os recursos de uma natureza que, para estes, apresentava-se como hostil, primitiva, e selvagem. Cabe assinalar, que os usos da biodiversidade aqui subentendem, especificamente, aos recursos florestais.

Uma das características marcantes deste tipo de exploração é a permanente contradição que se estabelece entre os usos propriamente sociais dos recursos naturais – no sentido de que se destinam à subsistência e a reprodução de determinados grupos sociais e a apropriação, exploração e valorização destes recursos nos quadros de um sistema produtivo capitalista, sustentado, na expropriação da terra e das demais condições de subsistência das populações tradicionais.

O uso dos recursos por parte das populações excluídas, apresentou-se como um elemento vital para a sua reprodução social, suprindo necessidades de alimentação, moradia, vestuário, trabalho, lazer, transporte, saúde e constituindo-se, assim, num importante fator na melhoria das suas condições de vida. Estes usos, na medida em que não faziam parte da economia formal, foram sistemática e deliberadamente desconsiderados. Vistos pelas elites políticas e econômicas como improdutivos atrasados e primitivos, eram ainda condenados por permitir, em grande parte, a subsistência destas populações à margem do mercado e dos mecanismos de controle do capital.

Para estes grupos hegemônicos, os recursos naturais eram valorizados apenas na medida em que pudessem ser transformados em mercadorias e, dessa forma, incorporados na dinâmica capitalista. Esta concepção consolidou-se, historicamente, através de práticas políticas e econômicas que resultaram, não apenas no já conhecido processo de degradação e impacto ambiental, mas, sobretudo, em um violento processo de degradação da qualidade de vida das populações tradicionais e das comunidades indígenas.

Portanto, um processo social e cultural excludente. Socialmente injusto, na medida em que as maiores partes dos recursos naturais vão sendo, cada vez mais, apropriadas privadamente, beneficiando apenas uma parte da sociedade – os detentores do capital. “Culturalmente excludente, na medida em que a imposição de uma determinada forma de utilização dos recursos natural tida como superior” vem significando a desestruturação, ou no limite, a destruição da diversidade cultural, representada pelos povos indígenas e comunidades tradicionais.     Nesse quadro, conclui-se que as características do processo de expansão capitalista recente em Mato Grosso, por meio de empreendimentos privados, concentração da propriedade fundiária, modernização tecnológica (agrotóxicos e transgênicas), uso intensivo de capital e a mentalidade predatória insustentável, em seu conjunto, vêm impedindo o acesso aos recursos naturais, diminuindo sua quantidade e a sua diversidade e levando ao desaparecimento da rica variedade de usos sociais da biodiversidade.

Reduzindo de forma drástica as possibilidades de apropriação desses recursos por parcelas mais amplas da população, conforme suas necessidades e especificidades culturais tornando-se, privilégio apenas de uma pequena minoria social. Para reverter esta história de caos implica, sobretudo, romper com esse modelo, que, ao longo de séculos, encararam a natureza como fontes inesgotáveis de recursos e como propriedade de uso próprio fazendo dela fonte de acumulação de riquezas inesgotáveis e impondo dessa forma seus próprios métodos, padrões e concepções de uso indiscriminado e de exploração.

Fonte: Tribuna Mato Grosso / Ney Iared Reynaldo

(*) Ney Iared Reynaldo é doutor em História da América, docente do Departamento de História do campus local da UFMT  e Coordenador do Núcleo de Estudos e Atividades da Terceira Idade

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando a natureza "fala" Modificações em organismos vivos ajuda a detectar o nível de poluição atmosférica

O uso de espécies de vegetais e animais que indicam precocemente a existência de modificações biológicas ou abióticas de um ambiente é uma técnica que vem sendo usada nas duas últimas décadas por pesquisadores brasileiros para detectar o nível de poluição atmosférica em locais como Cubatão (SP), Bahia, Espírito Santo, Pará e, desde 2008, em Mato Grosso. Através de algumas plantas é possível identificar níveis de poluição e quais agentes poluidores contaminam o ar. A ciência já comprovou que os organismos vivos (algas e peixes também são usados como bioindicadores), frente à presença de fatores de estresse, apresentam a tendência de modificarem suas funções vitais de diferentes formas e em diferentes níveis. No caso das folhas dos vegetais, elas funcionam como bioacumuladores de metais presentes.

Em Mato Grosso, o biomonitoramento está sendo desenvolvido pela Coordenação de Vigilância Sanitária em Saúde Ambiental, relacionado à qualidade do ar, sob a responsabilidade do biólogo Wagner Luiz Peres, da Secretaria Estadual de Saúde (SES) em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).Os trabalhos iniciaram em Mirassol D"Oeste, município onde existe a produção de cana-de-açúcar e álcool e onde a população rural e urbana fica exposta à fumaça da queima da cana por vários meses. A planta escolhida como bioindicadora foi a trapoeraba-roxa (Tradescantia pallida), exótica e muito comum na arborização das cidades. Wagner diz que a escolha se deu por conta do alto nível de sensibilidade à poluição.

A planta foi retirada de cinco residências de Mirassol D"Oeste e levadas para um sítio a três quilômetros da cidade onde, segundo Wagner, não existe poluição. Elas ficaram por três meses num canteiro para depuração. Não foi usado nenhum tipo de fungicida, apenas o adubo NPK. Wagner conta que das 5 mudas foram feitas 25 floreiras colocadas em cinco pontos da cidade, onde os agentes de saúde identificaram fontes poluidoras do ar e, ao mesmo, tempo exposição da população aos agentes poluidores.

A técnica de leitura das folhas é bem simples. Primeiro são retirados os grãos de pólen da planta e passados para a lâmina de laboratório. Em seguida eles são esmagados e é usado um corante que demonstra a ocorrência de mutações. O material é enviado para a USP onde é transformado em pastilhas secas que passam por uma leitura com raio-x. Assim é possível identificar 20 elementos como chumbo, manganês, ferro, cobre, zinco, catmo, magnésio, alumínio, cloro, potássio e outros. O raio-x permite saber que elementos químicos poluentes estão presentes no ar e que foram acumulados na planta.

Cruzando estas informações com o banco de dados de doenças respiratórias, é possível chegar até a fonte poluidora. O biomonitoramento é uma ferramenta de baixo custo para identificar agentes poluidores, mas não é capaz de substituir os métodos analíticos e sim complementá-los em análises de risco ambiental.

Fonte:  Gazeta Digital / Josana Salles
 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O que é SWU?

Você já deve ter ouvido falar sobre o Protocolo de Quioto, a Conferência de Copenhague e de reuniões entre países para reduzir a emissão de gases poluentes, certo? Mas, quantas pessoas já leram algum desses acordos – e mais: o que isso tudo tem a ver com a sua vida?

Sim, essas grandes conferências e decisões são muito importantes. O problema é que, vendo as coisas acontecendo lá longe, na TV ou no jornal, parece que tudo está além de nosso alcance, que não podemos fazer nada para ajudar. Ok, o planeta tem que ser mais sustentável, mas, o que nós temos a ver com isso?

O SWU (Starts With You – Começa Com Você) é um movimento de conscientização em prol da sustentabilidade que tem o intuito de mobilizar o maior número possível de pessoas em torno da causa, mostrando que, por meio de pequenas ações, com simples atitudes individuais do seu dia a dia, é possível ajudar a construir um mundo melhor para se viver. O movimento nasceu da iniciativa de Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom, e parte da convicção de que pequenas atitudes podem gerar grandes mudanças.

Não poder resolver os grandes problemas do noticiário não significa que você está de mãos atadas. A primeira coisa que você pode fazer para salvar o planeta é fazer alguma coisa. Simples assim. Mude hábitos, mostre que é possível e, desta forma, contagie aquele que está aí, do seu lado. Começa com você!


Fonte:  swu.com
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