quarta-feira, 28 de julho de 2010

Saber consumir vira arma para preservar o ambiente. Especialistas dizem que não basta reciclar: o ideal é consumir sem agredir a natureza.


De onde vem a carne que você compra no supermercado? Você sabe como é produzida uma comida congelada? Ao sair de casa, você desliga todos os aparelhos eletrônicos da tomada? Não? Se você é um cidadão preocupado com o futuro do planeta, está na hora de prestar atenção naquilo que você consome – e como consome.

Evitar o desperdício, entender de onde vem o alimento que colocamos na mesa, comprar só o que for realmente necessário, dispensar o uso de sacolas plásticas e usar de maneira inteligente os recursos naturais são os primeiros passos para tornar-se um consumidor consciente.

O consumo consciente está baseado naquilo que especialistas chamam de tripé dos três Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. É isso mesmo: se até bem pouco tempo atrás a palavra de ordem era reciclar, agora a discussão é bem mais ampla.

Walter Barrella, professor de ecologia da PUC-Sorocaba, acredita que consumo consciente passa, primeiramente, pela questão da água e da energia elétrica.

— Temos pouquíssima água potável disponível e o desperdício é enorme. Cerca de 40% da água tratada que sai da Sabesp é perdida até chegar nos lares – por problemas técnicos e de vazamentos. Uma vez dentro das casas, até 30% dela vai para os ralos. A população está crescendo e os recursos naturais são os mesmos, e até menores devido à poluição. Do total de água existente na Terra, apenas 3% são de água doce e a maior parte está em forma de gelo ou no subterrâneo. Menos de 0,1% é adequada ao consumo.

Desligue os aparelhos da tomada

A geração de energia elétrica é outra preocupação crescente entre especialistas. Para se ter uma idéia, 10% da nossa conta de luz corresponde ao que gastamos com os aparelhos eletrônicos no modo standby, ou seja, quando desligamos tevê, aparelhos de DVD e de som, apenas pelo controle remoto. Estamos, literalmente, jogando energia e dinheiro no lixo.

Por isso, consumir não é apenas aquilo que fazemos quando abrimos a carteira na feira, no supermercado ou no shopping. Todas as nossas ações, desde a hora em que acordamos até a hora em que vamos dormir, envolvem algum tipo de gasto. Usamos água, gás e energia elétrica para praticamente todas as atividades diárias: escovar os dentes, dar a descarga, fazer café, lavar e passar roupas, limpar a casa, preparar o almoço, e por aí vai. É a maneira como usamos esses recursos que faz a diferença.


Fonte: Cláudia Pinho / Portal R7

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Medidas de preservação

O desmatamento continuado da floresta amazônica tem despertado as atenções de organismos conservacionistas internacionais por conta dos efeitos prejudiciais ao clima. A Amazônia exerce influência ambiental nos diversos continentes, alimentando, entre certos grupos, a tese de ser território supranacional. Assim, já estaria excluída de diversos mapas em circulação no exterior. Seria, por isso, um território internacionalizado, pelo menos, na ambição dos que conhecem seu potencial de riquezas inexploradas até aqui.

O ritmo de abate da floresta, entre agosto de 2009 e maio de 2010, alcançou o corte de 1.567 quilômetros quadrados, área superior à cidade de São Paulo. Esse resultado indica queda de 47% na destruição da floresta. Em outros termos, o desmatamento continua, porém, em menor escala. A partir de 2004, o governo decidiu enfrentar essa questão vital, com o emprego de vários instrumentos tecnológicos e com medidas coercitivas no plano econômico para preservar a mata.

A primeira intervenção bem-sucedida diz respeito à montagem de três sistemas de monitoramento do Norte do Brasil, por satélites, operados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O controle do verde é feito pelo Deter - Detecção de Desmatamento em Tempo Real, voltado para a fiscalização. Ele mapeia os cortes em áreas de até 25 hectares e identifica as regiões em processo de degradação florestal.

O segundo sistema, o Prodes - Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal, também processado por satélite, detalha exclusivamente os cortes rasos em polígonos superiores a 6,25 hectares. O terceiro sistema, o Degrad, é voltado para o acompanhamento das áreas de florestas atingidas pela derrubada das árvores. Esses sistemas têm permitido o conhecimento, em tempo real, dos crimes ambientais e da comercialização ilegal da madeira extraída.

Embora o avanço tecnológico tenha representado o emprego de sofisticados recursos para o conhecimento da realidade ambiental, são as medidas limitativas ao comércio da madeira as responsáveis pelo maior impacto nessa questão. O governo federal adotou ações restritivas de crédito dos bancos públicos nos municípios incluídos na relação do corte ilegal de madeira, atingindo em cheio a atividade. Como os bancos oficiais dominam nas áreas degredadas, não há capital de giro para a comercialização madeireira ilegal.

Entre os grandes consumidores do Centro-Sul, começam a surgir compromissos formais pelo consumo de madeira certificada. O Sudeste, especialmente, concentra a maior fatia de uso da madeira da Amazônia na construção civil. Se essa tendência for ampliada, o baque será fatal.

Por último, no plano externo, o mais importante vem acontecendo. O Parlamento Europeu aprovou lei proibindo a comercialização de madeira ilegal em seus 27 países. Caberá aos respectivos governos a regulamentação da medida adotada depois de sete anos de promessas. Para a Amazônia Legal, o impacto será grande, pois 47% da madeira consumida na Europa procedem da floresta brasileira. Nessa atividade ficarão, apenas, os exportadores respaldados na lei.


Fonte: Editorial do Diário do Nordeste de hoje

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Carta da Terra


PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem- estar da família humada e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade considerando em relaçao ao lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

    * 1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

•a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.

•b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

    * 2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

•a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.

•b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica responsabilidade na promoção do bem comum.

    * 3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.

•a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno potencial.

•b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

    * 4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

•a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.

•b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a longo prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessario:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

    * 5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.

•a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

•b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

•c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.

•d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.

•e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida marinha de formas que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.

•f. Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave.

    * 6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

•a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.

•b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.

•c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas consequências humanas globais, cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.

•d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

•e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

    * 7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

•a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

•b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.

•c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.

•d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.

•e. Garantir acesso universal a assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.

•f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito.

      8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido.

•a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

•b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

•c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

    * 9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

•a .Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não- contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.

•b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter- se por conta própria.

•c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

    * 10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimeto humano de forma eqüitativa e sustentável.

•a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.

•b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.

•c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.

•d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.

    * 11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência desaúde e às oportunidades econômicas.

•a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.

•b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.

•c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os membros da família.

    * 12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

•a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

•b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.

•c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

•d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

    * 13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões, e acesso à justiça.

•a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse.

•b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.

•c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição.

•d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos.

*e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

•f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus própios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

    * 14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

•a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

•b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação para sustentabilidade.

•c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar a sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.

•d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

    * 15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

•a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de desofrimentos.

•b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.

•c.Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

    * 16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

•a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.

•b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.

•c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não- provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.

•d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.

•e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz.

•f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não- governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.

 

Fonte: www.earthcharter.org

 

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Relatório aponta para uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil

Agrotóxicos que apresentam alto risco para a saúde da população são utilizados, no Brasil, sem levar em consideração a existência ou não de autorização do Governo Federal para o uso em determinado alimento. É o que apontam os novos dados doPrograma de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta quarta-feira (23), em Brasília (DF).

Em 15 das vinte culturas analisadas foram encontrados ingredientes ativos em processo dereavaliação toxicológicajunto à Anvisa, devido aos efeitos negativos desses agrotóxicos para a saúde humana. “Encontramos agrotóxicos, que estamos reavaliando, em culturas para os quais não estão autorizados, o que aumenta o risco tanto para a saúde dos trabalhadores rurais como dos consumidores”, afirma o diretor da Anvisa, Dirceu Barbano.   Nesta situação, chama a atenção a grande quantidade de amostras de pepino e pimentão contaminadas comendossulfan, de cebola e cenoura contaminados comacefatoe pimentão, tomate, alface e cebola contaminados commetamidofós. Além de serem proibidas em vários países do mundo, essas três substâncias já começaram a ser reavaliadas pela Anvisa e tiveram indicação de banimento do Brasil.

De acordo com o diretor da Anvisa, “são ingredientes ativos com elevado grau de toxicidade aguda comprovada e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer”. “Apesar de seremproibidosem vários locais do mundo, como União Européia e Estados Unidos, há pressões do setor agrícola para manter esses três produtos no Brasil, mesmo após serem retirados de forma voluntária em outros países”, pondera Barbano.

A Anvisa realiza a reavaliação toxicológica de ingredientes ativos de agrotóxicos sempre que existe algum alerta nacional ou internacional sobre o perigo dessas substâncias para a saúde humana. Em 2008, a Agência colocou em reavaliação 14 ingredientes ativos de agrotóxicos, dentre eles o endossulfan, o acefato e o metamidofós.
Juntos, esses 14 ingredientes representam 1,4 % das 431 moléculas autorizadas para serem utilizadas como agrotóxicos no Brasil. Entretanto, uma séria de decisões judiciais, também em 2008, impediram, por quase um ano, a Anvisa de realizar a reavaliação desses ingredientes.    De lá pra cá, a Agência consegui concluir a reavaliação de apenas uma molécula: acihexatina. O resultado da reavaliação prevê que essa substância seja retirada do mercado brasileiro até 2011. “Todos os citricultores que exportam suco de laranja já não utilizam mais a cihexatina, pois nenhum país importador, como Canadá, Estados Unidos, Japão e União Européia, aceita resíduos dessa substância nos alimentos”, diz o gerente de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.

Para outras cinco substâncias, a Anvisa já publicou as Consulta Públicas e está na fase final da reavaliação. Nesses casos, houve quatro recomendações de banimento (acefato, metamidofós, endossulfan e triclorfom) e uma indicação de permanência do produto com severas restrições nas indicações de uso (fosmete).

Balanço

Outra irregularidade apontada pela PARA foi a presença, em 2,7% das amostras dos alimentos coletadas, de resíduos de agrotóxicos acima dos permitidos. “Esses resíduos evidenciam a utilização de agrotóxicos em desacordo com as informações presentes no rótulo e bula do produto, ou seja, indicação do número de aplicações, quantidade de ingrediente ativo por hectare e intervalo de segurança”, explica Meirelles.

Tiveram amostras, ainda, que apresentaram as duas irregularidades: resíduos de agrotóxicos acima do permitido e ingredientes ativos não autorizados para aquela cultura. No balanço geral, das 3.130 amostras coletadas, 29% apresentaram algum tipo de irregularidade.
Os casos mais problemáticos foram os do pimentão (80% das amostras insatisfatórias), uva (56,4% das amostras insatisfatórias), pepino (54,8% das amostras insatisfatórias), e morango (50,8% das amostras insatisfatórias). Já a cultura que apresentou melhor resultado foi a da batata com irregularidades em apenas 1,2% das amostras analisadas.

Cuidados

Para reduzir o consumo de agrotóxico em alimentos, o consumidor deve optar por produtos com origem identificada. Essa identificação aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com adoção de boas práticas agrícolas.
É importante, ainda, que a população escolha alimentos da época ou produzidos por métodos de produção integrada (que a princípio recebem carga menor de agrotóxicos). Alimentos orgânicos também são uma boa opção, pois não utilizam produtos químicos para serem produzidos.

Os procedimentos de lavagem e retirada de cascas e folhas externas de verduras ajudam na redução dos resíduos de agrotóxicos presentes apenas nas superfícies dos alimentos. “Os supermercados também tem um papel fundamental nesse processo, no sentido de rastrear, identificar e só comprar produtos de fornecedores que efetivamente adotem boas práticas agrícolas na produção de alimentos”, afirma o gerente da Anvisa.

PARA

O objetivo do PARA, criado em 2001, é garantir a segurança alimentar do trabalhador brasileiro e a saúde do trabalhador rural. Em 2009, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa monitorou 20 culturas em 26 estados do Brasil. Apenas Alagoas não participou do PARA em 2009.

O Programa funciona a partir de amostras coletadas pelas vigilâncias sanitárias dos estados e municípios em supermercados. No último ano, as amostras foram enviadas para análise aos seguintes laboratórios: Instituto Octávio Magalhães (IOM/FUNED/MG), Laboratório Central do Paraná (LACEN/PR) e para um laboratório contratado, nos quais foram investigadas até 234 diferentes agrotóxicos em cada uma das amostras.    Apesar das coletas realizadas pelo Programa não serem de caráter fiscal, o PARA tem contribuído para que os supermercados qualifiquem seus fornecedores e para os produtores rurais adotem integralmente as Boas Práticas Agrícolas. Prova disso, foi a criação do Grupo de Trabalho de Educação e Saúde sobre Agrotóxicos (GESA).

Integrado por diferentes órgãos e entidades, o Grupo tem como objetivo elaborar propostas e ações educativas para reduzir os impactos do uso de agrotóxicos na saúde da população, implementar ações e estratégias para incentivar os sistemas de produção integrada e orgânicos e, no caso dos cultivos convencionais, orientar o uso racional de agrotóxicos. “Além de orientar, é preciso que o Estado fiscalize de forma efetiva o uso desses produtos no campo e coíba o uso indiscriminado e, até mesmo ilegal, de alguns agrotóxicos”, comenta Meirelles.

Os estados também têm realizado diversas ações com o objetivo de ampliar o número de amostras rastreadas até o produtor. Das amostras coletadas em 2009, 842 (26,9%) foram rastreadas até o produtor/associação de produtores, 163 (5,2%) até o embalador e 2032 (64,9%) até o distribuidor. Somente 93 (3%) amostras não tiveram qualquer rastreabilidade.


Fonte:  Portal Anvisa


sábado, 3 de julho de 2010

Jardim: Dê uma chance ao verde


Livro mostra alternativas para assegurar a preservação de espécies de fauna e flora nas regiões urbanas com a adoção de plantas nativas
 
Bem-te-vis, saracuras, beija-flores, borboletas, gambás, vaga-lu­mes são criaturas facilmente vistas no quintal da casa de Siddhar­tha. A área verde, localizada no meio de Curitiba, no bairro Cen­tro Cívico, começou a ser recuperada há 15 anos pelo místico inglês, de ascendência italiana. Os animais e insetos voltaram a aparecer no jardim holandês abandonado, depois que a vegetação exótica foi substituída por plantas nativas. A transformação feita pelas mãos de Siddhartha é uma das cinco experiências retratas no livro Cultura e Bio­diversidade nos Jardins de Curitiba, que a ONG Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS) lança hoje na capital paranaense. “O que importa não é a sensação pessoal de usufruir o prazer de estar junto à natureza, mas o compromisso de zelar, em todas as instâncias possíveis, para a conservação da biodiversidade”, é a opinião de Siddhartha, reproduzida na capa do livro.

A obra pretende mostrar como é possível recuperar a biodiversidade original e fomentar a prática de manejo conservacionista nas regiões urbanas. A ideia é transformar um jardim convencional em um jardim conservacionista ou nativo, o que significa adotar ações de jardinagem ou paisagismo ecologicamente comprometidas e que na forma e no conteúdo “imitam” a natureza.
Naturalidade
Confira os benefícios de um jardim nativo:

> Reduz o custo de implantação e manutenção, já que as plantas nativas são adaptadas ao clima e às condições locais.

> Requer pouca manutenção, o que significa menos poda, irrigação, aplicação de agrotóxicos e adubações.

> A manutenção conta com folhas e galhos caídos, que retomam o ciclo da natureza ao se decompor com a atividade de organismos do solo, tornando-o mais fértil e propício para o crescimento de plantas. Possibilita a sobrevivência da fauna local e perpetua os ecossistemas originais.

> O aproveitamento de resíduos vegetais (restos de verduras e frutas da cozinha) permite a adubação orgânica, mediante uso de técnicas de compostagem, e reduz a quantidade de lixo produzido e encaminhado para os aterros sanitários.

> A manutenção das áreas nativas afeta variáveis ligadas à qualidade da água, do ar, à manutenção da fertilidade dos solos e ao equilíbrio climático; 

> A demanda pela aquisição de mudas nativas estimula paisagistas e viveiristas a cultivar e reproduzir biodiversidade, produzindo mais mudas, inclusive as espécies ameaçadas; 

> A vegetação pode reduzir a intensidade da reflexão da luz solar em construções, bem como melhorar qualidade do ar e do clima e ainda minimizar ruídos.

O planejamento deste tipo de jardim envolve aspectos co­­muns à implantação de qualquer outro. É preciso analisar o espaço disponível, o solo, a escolha de espécies e do manejo necessário. A diferença está no objetivo final, que é contribuir para a preservação de espécies de fauna e flora nativas. Segun­do o engenheiro florestal Pablo Melo Hoffmann, um dos organizadores do livro, a primeira re­­gra é investigar as espécies originais do bioma ou ecossistema da área. É necessário diferenciar as espécies nativas (originais da região) das exóticas (transplantadas de outros biomas ou ecossistemas). O principal problema é identificar as espécies exóticas invasoras, que se proliferam descontroladamente e acabam sendo responsáveis por desequilíbrios ambientais. 

Em relação à escolha de espécies nativas que substituirão as exóticas, é preciso considerar características ecológicas como a disputa de espaço entre elas, a tolerância à luz solar ou à sombra, a tolerância à umidade ou à seca e o tipo de solo do terreno. Outra coisa para se ter em mente é que a baixa variedade de espécies representa menor resistência, se uma praga ou doença atacar as plantas. “Quan­­to mais diversidade a área permitir, melhor”, afirma Hoffmann. Ele lembra também que é importante pensar o jardim como um microecossistema, já que o desenvolvimento de algumas plantas pode interferir no aspecto geral do jardim e no crescimento de espécies diferentes. Um arbusto frutífero, por exemplo, pode atrair aves que propiciam a dispersão de outras plantas através das sementes contidas em suas fezes. Assim como árvores de crescimento acelerado, que oferecem sombra, podem influenciar tanto o aparecimento quan­­to o desaparecimento de animais e outras plantas.

Romper com alguns paradigmas estéticos convencionais como atributos de ordem, harmonia e simetria é outra condição importante para o sucesso do jardim nativo apontada por Hoffmann. Se os espaços têm a perspectiva de imitar a natureza, eles consequentemente vão guardar as características de assimetria, desordem e mutação presentes nos ambientes originais. Neste sentido, vale lembrar que varrer o quintal, por exemplo, para limpar o terreno das folhas, flores, frutos e galhos caídos, não é recomendado, porque a decomposição da matéria orgânica propicia o desenvolvimento de micro-organismos necessários para o equilíbrio do ecossistema. “O conceito de beleza nos jardins nativos é outro. A beleza está em apreciar a forma como a natureza se desenvolve”, explica o engenheiro florestal.


Fonte:  Gazeta do Povo / Aniela Almeida
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